Por: Alexandre Chamusca
Por volta de 2000 AC, diz-nos a Bíblia, uma tribo de pastores Hebreus de raça semítica deixou a Mesopotâmia sob a condução de Abraão para se estabelecer na Palestina à beira do rio Jordão. Estes pastores viveram pacificamente naquele local governados pelos descendentes de Abraão até que, por ocasião de uma grande crise, emigraram para o Egipto, onde um deles era primeiro ministro do Faraó, e por lá se instalaram, acabando por serem escravizados pelos autóctones.
Foi Moisés que, por volta de 1300 AC, os libertou e os conduziu de volta à Palestina depois de terem vagueado como nómadas cerca de 40 anos pelo deserto.
Depois da morte de Salomão, filho de David, os Judeus dividiram-se em dois reinos : Israel com a capital em Samaria, e Judá com a capital em Jerusalém.
Em 722 AC, Israel caiu nas mão dos Assírios. Nabucodonosor destruiu Jerusalém em 586 AC e levou os hebreus cativos para a Babilónia.
Quando Ciro, o grande rei dos Persas, se apoderou do segundo império da Babilónia, os Hebreus foram autorizados a regressar à Palestina.
Em seguida, sob Alexandre, foram subjugados pelos Gregos e, por último, foi a vez dos Romanos que, em 70 da nossa era, massacraram grande parte do povo Judeu e destruíram Jerusalém e o seu Templo.
Os Judeus que escaparam ao massacre foram então expulsos da Palestina e dispersos pelos quatro cantos do mundo.
Foi só em 1948, após séculos de perseguições e massacres, que o povo Judeu voltou à Palestina onde fundou uma nação a que chamou: Estado de Israel.
Nenhum outro povo teve uma influência no nosso mundo como os Hebreus, mais tarde chamados Judeus ou Israelitas.
Essa influência deve-se à sua religião de que o Império Romano se assenhorou e nos impôs, na forma do cristianismo (também ele judeu). Com efeito : o Deus Pai, antes de ser nosso Deus (associado ao Cristo, seu Filho) foi, durante dois mil anos, o Deus único e todo poderoso do povo judeu.
Religiosamente, é costume considerar os Judeus como uma raça amaldiçoada por Deus e, historicamente, como um povo sem carácter.
Porém, a Bíblia ensina-nos que, dentre todos os povos existentes na altura, o povo Judeu foi o povo eleito por Deus (antes o não tivesse sido), e a História revela-nos uma realidade muito diferente da ideia que predomina entre nós acerca do carácter do Judeu.
A História Judaica é um exemplo do inconformismo de um pequeno povo, dotado de uma tenacidade extraordinária, com características próprias, bem vincadas e quatro mil anos de existência, (nós, que somos antigos, nem 1000 temos!) lutando com denudo e grande coragem, ao longo de milénios contra o domínio de grandes potências e contra o infortúnio que fez que Deus (nosso Pai) o colocou naquela zona estratégica do globo (“A Terra prometida”).
Após a leitura da História Judaica, temos de pôr de parte as ideias preconcebidas que nos apontam os Judeus, não como um povo semelhante a tantos outros, mas como esquisitos bandos de fanáticos religiosos feitos para, fora das épocas em que são queimados ou gaseados, vaguear pelo mundo e apanhar na cara.
Se temos orgulho nos heróis que fizeram a nossa História, a História Judaica é, tanto ou mais que a nossa, um relato de coragem, abnegação e, como nos é dado classificar os feitos históricos que nos enaltecem, é toda ela feita de heroísmo, do mais elevado.
Porém, pouca gente se dá ao trabalho de a ler, optando antes pelo “conceito ovídeo”, que condena o Judeu porque Deus nosso Pai (que hoje apelidamos, paradoxalmente, de Bondade infinita) e, nessa altura era apenas Deus e Pai dos Judeus, num dos seus inúmeros acessos de cólera, os amaldiçoou e lhes fez saber que haviam de ser dispersos pelo Mundo ou ainda, porque o povo Judeu matou Cristo (na altura não era conveniente dizer que tinham sido os Romanos !).
Porém, herdámos Cristo (que elegemos Deus) do Povo Judeu, e esse Cristo nasceu judeu, filho de uma judia, —cresceu, viveu e morreu : sempre em solo Judeu— e, quando o resto do mundo já existia, pregou exclusivamente para o Povo Judeu.
Ademais, se era desígnio de Deus morrer na cruz, quem pode ir contra os desígnios de Deus ? —Por certo que: nem Romanos, nem Judeus.
Perante tudo isto, e tendo lido a História Judaica, eu não entendo a maneira de ver as coisas e o Mundo, como a maioria dos meus compatriotas. Nem tão pouco posso concordar com a condenação sistemática do povo israelita no conflito israelo-árabe, … e ficar a bem com a minha consciência.
Os Árabes e os Judeus são “primos” como nós dos Espanhóis. Palestinianos, tanto são os Árabes como os Judeus pois, há 4000 anos, já ambos co-habitavam na Palestina. O famoso Herodes, rei dos Judeus, que reconstituiu o Templo de Jerusalém (destruído pelos Assírios) e perseguiu o menino Jesus, era de descendência Árabe.
Sempre que pugno a favor dos Judeus, sinto-me de imediato, a pregar no deserto e parece não interessar a ninguém procurar ver por si próprio, nem tão pouco, inquirir do lado contrário ao convencional.
Porém quando, acerca do conflito palestiniano, eu ouço as razões invocadas e verifico o desprezo votado pelo futuro do povo israelita, fico em crer que sou dos poucos a resistir ao apelo do sangue árabe que temos em nós.
Passada a média idade, o adulto que não leu a Bíblia e a História Judaica, por certo, que não as vai ler por minha causa.
Então, eu direi para terminar que : Já que mais não fosse, só pelo facto de sermos cristãos e de termos (pela mão da nossa Santa Madre Igreja) acusado e condenado —bem injusta e cobardemente— os judeus, ao longo dos séculos em que eles vagueavam pelo mundo, sem eira nem beira —indefesos— depois de terem sido expulsos pelos Romanos da sua terra : a Palestina, deveríamos “agora que crescemos em sabedoria e bondade” procurar emendar os erros do passado e optarmos por uma atitude amiga em relação a esse povo, compreendendo que, depois de tanto sofrimento em terras alheias por falta da Pátria que lhes foi roubada, os Judeus tudo façam —agora que a recuperaram— para a não voltarem a perder.
Alexandre Chamusca