Sunday, September 9, 2007

Amigos de infância...



Carta dirigida a um actual administrador de uma conhecida empresa Portuguesa:

Caro Paulo,
Não sei se te lembras de mim, mas andámos juntos na escola Portuguesa em Kinshasa, no Zaire e fomos grandes amigos numa certa época, bem que os anos -por assim dizer- nos tenham afastado um pouco.

Lembras-te do velho Manuel Morteiro, o professor de Ciências? 
E o dia em que ele pegou fogo à barba com o bico de Bunsen? 
E como o pequeno Nuno tentou apagá-lo com ácido sulfúrico?
E os agradáveis passeios de Domingo à noite ao longo do rio, quando nós nos embriagávamos da magnificência do por do sol e fumávamos cigarros às escondidas?

Mas é importante não nos perdermos em sonhos... 
Na verdade estou a escrever-te para te pedir se podes conceder um qualquer lugar na tua firma ao meu filho Jorge, que acaba de sair da escola.
Como tu deves saber, eu próprio sou artista e não tenho nenhum contacto no mundo dos negócios,

Esperando que estejas de boa saúde,

A. Santos

Resposta do Paulo Catrino:

Caro Senhor Santos,

Tenho a agradecer-lhe a sua carta de ontem, mas lamento não haver maneira de lhe prometer coisa alguma para o seu filho.

Envergonho-me dizê-lo mas não consigo, de forma alguma, encaixar o Senhor na minha memória: Mas na verdade, a nossa escola era grande e passou-se muito tempo depois depois de então.

Claro que se tivesse oportunidade, ficaria encantado em prestar serviço a um velho companheiro, mas os negócios ultimamente têm sido escandalosamente maus que nós estamos mais inclinados a reduzir pessoal que o contrário.

Compreenderá o Senhor, que nestas circunstâncias não o posso ajudar.
Com os melhores cumprimentos,

Paulo Catrino

Resposta à carta do Paulo Catrino:

Caro Paulo,

Lamento que não possas fazer nada pelo rapaz.

Estou também um pouco desiludido que não te consigas lembrar de mim.

Não te lembras do tempo em que roubaste um pudim de geleia da cozinha e o escondeste na minha cama? Eu nunca o esquecerei...

Tenta puxar pelos teus miolos, meu velho e vê se não podes evocar a minha imagem, tenho o nariz assaz comprido e os cabelos situam-se entre o ruivo e o castanho claro.

A propósito, se não podes tu mesmo arranjar um lugar ao rapaz, conheces talvez uma outra empresa que tenha vagas.

Suponho que mencionei estar disposto a pagar um subsídio de €15.000 para lhe proporcionar um bom começo.

Fraternalmente,

A. Santos

Resposta do Paulo Catrino:

Meu caro António,

O que deves pensar de mim?...
Foi por teres assinado A. Santos que me confundiste. 
É óbvio que éramos demasiado amigos para empregar nomes de família.
Como se eu pudesse esquecer esse pudim de geleia ou os cigarros de Domingo à noite!

Evidentemente que posso conseguir um lugar para o teu filho na minha empresa e acredito que haverá poucas firmas onde ele terá melhores perspectivas,

Tudo do melhor,

Paulo Catrino

Contra resposta do António Santos:

Meu caro Paulo,

O facto é que eu, nem tenho um filho nem €15.000.

Simplesmente no outro dia aconteceu cruzar-me com o gordo Joaquim da Binza e fizemos uma aposta quanto a se tu serias a mesma pequena fera mercenário que eras em rapaz...

Ganhei eu, claro está.

Sinceramente teu,

A. Santos




Uma paródia criada por Alexandre Chamusca em homenagem a alguns amigos de infância e ex-colegas do colégio de Kinshasa (05/05/2007)